A efervescência da Tecnologia da Informação (TI) no Brasil e o surgimento cada dia mais acentuado de negócios cuja inovação é o foco – as tão faladas start-up’s – têm motivado o setor, a exemplo de tantos outros no País, a reivindicar menos burocracia e mais agilidade no desenvolvimento destes negócios. No Ceará, onde o dinamismo da legislação e a proatividade dos empresários em investir em TI não é destaque, o impacto dessas mudanças deve ser menor, pelo que avalia o professor Gesil Sampaio. Coordenador do Núcleo de Inovação Tecnológica da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), na Bahia, ele diz que o cenário atual incentiva a mudança estrutural a partir da academia, fazendo com que os alunos sejam capacitados para desenvolver projetos de negócios e não mais “aprendem para substituir o professor ou simplesmente arrumar emprego”.
“Quando uma empresa é gerada dentro de um projeto de mestrado ou doutorado, saindo da academia, o investidor já vê o DNA de pesquisa e inovação para os negócios, pois os negócios também são importantes”, defende o acadêmico, que estará presidindo a mesa “os impactos do novo código nacional de ciência e tecnologia na área de pesquisa e inovação”, durante o congresso InfoBrasil.
De acordo com o professor, as articulações para mudanças estruturais aconteçam no setor de TI já ocorrem há um tempo com o Projeto de Lei 2177 e a PEC 290 – a qual já passou pela Câmara e deve entrar ainda este semestre para ser votado no Senado. “Na prática, não são mudanças direcionadas exclusivamente ao setor de TI, mas que tratam de uma reforma na legislação de projetos e de financiamentos tanto pelo Estado quanto pela iniciativa privada e que beneficiam o setor”, detalha.
Gesil conta que a ideia é mudar pontos da constituição brasileira para permitir mais maleabilidade no uso de recursos captados para projetos. Segundo exemplifica, “a mudança diz respeito a fazer as coisas funcionarem e não investir mais ou menos”, pois visa derrubar uma série de etapas burocráticas que atrasam o projeto e, pior, não permitem que o dinheiro seja usado em melhorias do projeto.
Atrair, criar e proteger
Sobre como essa mudança deve reverberar em estados como o Ceará e a própria Bahia, onde leciona o professor, ele é categórico: “depende muito das nossas lideranças regionais, no sentido de criar, atrair e proteger empresas detentoras de inovação. Isso vai dizer quanto sucesso vamos ter e em quanto tempo”. Na comparação com os grandes polos do Sudeste, Gesil lamentou as legislações estaduais também contribuírem para o atraso dos projetos, mas citou o Porto Digital, em Pernambuco, como exemplo de sucesso.
Para o presidente da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação, Software e Internet (Assespro-CE), Márcio Braga, as mudanças podem trazer resultados positivos para o setor de TI no Ceará. “Precisamos saber como os órgãos públicos estaduais e municipais vão aderir a nova legislação, se vão mudar seus procedimentos de compras governamentais. Não sei ainda qual será o posicionamento da Funcap frente a mudança, mas espero que as instituições locais tenham um ponto transformador”, acrescenta.
Fonte: Contábeis