Diante de um cenário econômico instável, a demanda por serviços de consultoria ganha novo perfil e exige mais flexibilidade e customização para garantir clientes.
As soluções que respondem mais diretamente aos movimentos anticíclicos da economia têm sido as mais demandadas, afirmou o presidente da Deloitte no Brasil, Juarez Lopes de Araújo. A consultoria, em 2015, teve alta de 11% de seu faturamento (no ano fiscal terminado em maio de 2015) e a estratégia para atingir o crescimento foi a diversificação do portfólio e a capacidade de modificar o serviço de acordo com a necessidade de cada empresa. Em um cenário em que os pedidos de recuperação judicial aumentaram, junto com a pressão macroeconômica, segundo ele, a consultoria deve estar capacitada para ofertar serviços customizados que façam frente às novas dinâmicas do ambiente de negócios.
Para este ano, a meta é crescer 12% do faturamento no período de junho de 2015 a maio de 2016. Um dos focos da empresa para atingir este resultado será focar no middle market, que após um acelerado crescimento junto à economia local, procura profissionalização da gestão e governança para consolidar.
De acordo com a PricewaterhouseCoopers (PwC), as soluções orientadas à diferenciação, eficiência operacional, competitividade e gestão de crise e riscos foram as mais procuradas em 2015. Entre elas, os serviços ligados a implementação de tecnologia, segurança da informação, soluções digitais, consultoria regulatória e de compliance, além de serviços forenses e investigações.
Segundo o sócio de consultoria de negócio da PwC, Federico Servideo, a tendência para este ano é o aumento da busca por serviços relacionados a aspectos regulatórios, de gestão de crise, fusões e aquisições e eficiência operacional e otimização. A PwC cresceu 35% em seu último exercício fiscal e a expectativa para este ano fiscal (que termina em junho) é de 15%.
Inversão
Para o sócio-líder de consultoria da EY (antiga Ernst & Young), Antônio Vita, a procura por serviços relacionados a governança e gestão de risco se deu a partir de 2015 em função dos escândalos de corrupção e o aumento da preocupação das multinacionais reguladas por órgãos fora do Brasil. Sem mudança no cenário político e econômico do País, a procura continuará nessas áreas.
A EY que espera crescimento entre 14% e 15% do faturamento na área de consultoria, tem como foco ampliar as carteiras de empresas familiares e do setor de agronegócio. Segundo ele, um dos benefícios de trabalhar com a empresa familiar, independente do porte, é a flexibilidade. Esse modelo tem maior agilidade [que uma multinacional] na tomada de decisão e até na hora de mudar o plano de negócio, aponta o executivo.
Um dos diferenciais que tem beneficiado as chamadas Big 4, nome dado às quatro maiores empresas de consultoria e auditoria, é o investimento em diversas áreas de negócio. Vita acredita que trabalhar em um único segmento da economia restringe o mercado e aumenta o risco de queda da demanda. Ainda para ele, a procura dos serviços varia de acordo com o cenário macroeconômico, e não possuir as áreas mais demandadas no momento impede o crescimento da consultoria. Hoje, a área tributária é muito procurada, e consultorias de nicho, às vezes, não atuam com isso, exemplifica.
Para a sócia-líder de melhoria de performance da EY para a América do Sul, Cristiane Amaral, outros segmentos que têm impulsionado a demanda são telefonia, automotivo e varejo. Sobre este último, a executiva aponta que ainda é muito ligado a lojas físicas e, atualmente, um dos desafios é a entrada no e-commerce. Outra mudança trazida pela mudança econômica, diz ela, foi a queda de rotatividade dos profissionais.
Fusão e aquisição
Apesar do aumento da atratibilidade do País, devido à desvalorização econômica, o movimento de fusões e aquisições parece não ter reagido como se esperava. O investidor internacional olha com interesse o Brasil pelo preço, mas a relação risco e retorno faz com que as transações não ocorram imediatamente, diz o sócio da KPMG no Brasil e líder para o setor de consultoria, Carlos Gatti.
De acordo com ele, dependendo do que acontecer no cenário político e econômico do País no primeiro trimestre, é possível que a relação com investidores internacionais se restabeleça e ocorram novas fusões e aquisições até o final do ano. O importante é que o investidor não deixou de prestar atenção no Brasil. Temos gente olhando para o varejo, o mercado de produção e outros segmentos diversificados, afirmou o executivo.
Apesar de não mencionar o crescimento esperado para 2016, ele aponta que deve atingir dois dígitos, sobretudo em áreas de compliance e avaliação de risco e potencial, que cresceram 20% em 2015. Além de serviços relacionados a tecnologia da informação e digital.
Concorrência
Já a BDO, uma das empresas consideradas dentro das Big 5 do mercado de consultoria e auditoria, identificou no último trimestre de 2015 um aumento de 40% nas demandas relacionadas a programas de reestruturação financeira entre empresas brasileiras diante da instabilidade econômica.
As demandas partiram especialmente de companhias ligadas aos setores de telecomunicações, agricultura e ao mercado de consumo, como distribuidoras e varejo.
Os desafios e os potenciais das auditorias
Com menos entrantes no mercado, devido à retração econômica, o segmento de auditoria desacelera. O mercado aumenta ou diminui na proporção que novas empresas vêm ou se formam no Brasil, afirma o sócio da KPMG líder para o setor de auditoria, Charles Krieck.
Segundo ele, a instabilidade não diminui o mercado, mas faz com que muitas empresas adiem a busca por auditoria. Mesmo assim, ampliar a base de clientes é um dos objetivos da KPMG, que pretende atingir entre 10% e 12% de alta no faturamento.
Já o sócio líder de auditoria da EY, Sérgio Romani, aponta que a demanda de empresas que querem abrir IPO e procuram novas fontes de financiamento que precise de auditoria caiu na instabilidade. No entanto, uma nova demanda surgiu a procura de consultoria contábil. Tivemos um aumento enorme de procura devido à camada lei anticorrupção.
De acordo com pesquisa divulgada pelo Instituto dos Auditores Internos do Brasil, um dos desafios deste mercado é a pressão por alteração de resultado. Segundo o estudo, 44% dos profissionais já sofreram, em algum momento, pressão de seus superiores para alterar resultados de relatórios. A média global é de 29%, de quase 15 mil entrevistados.
Fonte: REDE JORNAL CONTÁBIL