São Paulo – Pequenos e médios fornecedores enfrentam dificuldades com o fluxo de caixa à medida que seus compradores, em geral grandes companhias, que negociam com centenas de empresas, estão solicitando mais prazos nas transações em meio à crise econômica.
Com a saúde financeira prejudicada e um cenário de escassez de crédito, muitas dessas PMEs, que costumam concentrar suas vendas em poucas grandes corporações, acabam quebrando ou entrando em processo de recuperação judicial.
“Alguns fornecedores conseguem absorver o alongamento de prazo [pelas grandes empresas], mas outros não”, explicou Fabiano Coutinho, diretor sócio da consultoria Coobo. “Isso gera perda de fornecedores, o que pode aumentar o preço dos insumos para os compradores. É um ciclo vicioso.”
Uma saída apontada por consultores ouvidos pelo DCI para as companhias menores, que têm menor margem de manobra em relação ao capital de giro, é usar a solidez do grande comprador para antecipar recebíveis a uma taxa mais acessível.
Cada um dos cerca de 50 clientes da Coobo possui, aproximadamente, mil fornecedores. Diante disso, a consultoria fez uma parceria com a Intoo, plataforma de crédito on-line, para que os fornecedores de seus clientes consigam antecipar os recebíveis, resolvendo o problema de descasamento de caixa gerado pelo alongamento de prazos e, consequentemente, melhorando a sustentabilidade da cadeia produtiva.
No processo, a grande empresa funciona como uma espécie de avalista do crédito concedido às menores. “Essa é uma solução interessante. O importante é que empresas, clientes e fornecedores sentem para conversar sobre as possibilidades para manter a atividade econômica”, apontou Eduardo Peres, sócio-diretor da consultoria Global Trevo.
Segundo Coutinho, inicialmente 30% dos fornecedores devem ser beneficiados pela estrutura da Intoo, composta por instituições financeiras, factorings e Fundos de Investimento em Direito Creditório (FIDC), montante deve crescer para 80% no prazo de um ano.
Lucas Mattos, diretor de operações da plataforma de crédito, afirmou que, por conta dessa estrutura, o fornecedor pode conseguir taxas até 70% menores que as do mercado. “O risco da empresa que vai pagar o banco é conhecida porque ela faz parte da carteira da Coobo”, explicou.
Gestão interna
Fernando Segato, sócio diretor da consultoria Gorioux Faro, explicou que um dois maiores problemas na gestão de risco dos pequenos e médios fornecedores é a concentração de vendas. “Se a companhia tem apenas um comprador e ele alonga em 10 dias o pagamento, isso já prejudica o fluxo de caixa”, disse.
De acordo com ele, é normal que toda a cadeia produtiva seja afeta em momentos de queda da atividade econômica – as pressões são repassadas ao longo dos elos. Como comprador costuma deter o poder na relação, o pequeno empresário sente mais o impacto.
Peres, da Global Trevo, aponta que, além de buscar soluções externas, as empresas devem olhar para dentro do próprio negócio em meio à crise. “O departamento de compra tem que conversar com o departamento de logística, que deve falar com o setor de produção”, exemplificou.
Dessa forma, continua o consultor, é possível encontrar soluções como redução dos estoques, o que aumenta o fôlego do capital de giro.
Segundo Coutinho, da Coobo, o processo de antecipação de recebíveis com risco de crédito do comprador já é aplicado em países mais desenvolvidos e tem uma estrutura sustentável para o cenário pós-crise vivida pelo Brasil.
Cenário
Dados da Boa Vista SCPC apontam que o número de falências decretadas aumentou 14,2% em 12 meses até novembro, enquanto os pedidos de recuperação judicial deferidos subiram 41,9%.
Já as concessões de crédito para desconto de duplicatas, uma das formas de adiantar recebíveis, caiu 10,4% em 12 meses até outubro.
Pedro Garcia
Fonte: Contábeis